Creche São Miguel Arcanjo PROJECTO EDUCATIVO I- Fundamentos: 1. A Associação José Estêvão nasceu em 1908, na freguesia do Lumiar. Os seus fundadores pretenderam homenagear a memória do reputado tribuno e filantropo José Estêvão Coelho de Magalhães e durante muitos anos conseguiram por à disposição das crianças da zona, uma Creche, entre outros equipamentos de natureza social. 2. A Associação José Estêvão retoma agora essa iniciativa, com base numa experiência de amizade entre adultos, convictos de que a hipótese de significado da vida que encontraram no cristianismo é verdadeira, valendo a pena passá-la às gerações seguintes para que possa ser verificada por eles e por eles desenvolvida. 3. Este propósito, assente na certeza da dignidade infinita de cada pessoa e no reconhecimento de toda a realidade como dádiva ao Homem para a sua realização pessoal e comunitária, contém em si um ímpeto de positividade construtiva que no âmbito pedagógico e didático é especialmente rico e merece ser trabalhado. II- A comunidade educativa: 1. A Creche da AJE – sob a invocação de São Miguel Arcanjo – é constituída por todos os adultos – diretores, educadores, trabalhadores não docentes e Pais – e por todas as crianças que a ele estão vinculadas. 2. Uma vez que a identidade última desta creche decorre da sua proposta educativa, todos os adultos são co-responsáveis pela sua vivacidade e efectividade, salvaguardada a variedade de níveis de empenhamento pessoal que uma comunidade educativa necessariamente acarreta. Todos os adultos empenhados na Creche São Miguel Arcanjo são considerados co-educadores. A cada adulto cabe a responsabilidade de viver em tensão com o ideal cristão, de maneira a que a liberdade de todas as crianças possa ser desafiada e fortalecida. Aquilo que as crianças vêem nos adultos deve permitir-lhes crescer de acordo com a sua verdadeira natureza humana. 3. Cada criança deve ser tratada por forma a corresponder à proposta dos adultos, de acordo com o estado do desenvolvimento de cada uma. A docilidade é a ênfase das aquisições relacionais da Creche, já que se quer favorecer a confiança da criança nos adultos, de maneira a que cada um siga o seu educador com alegria, e assim se lance nas inúmeras descobertas ao seu dispor com a confiança de quem se sabe acompanhado. 4. Entre todos os membros da comunidade educativa deve cultivar-se uma estima e um respeito exemplares, de maneira a que cada pessoa se sinta ajudada na resposta às suas dificuldades e encorajada no seu trabalho e no seu desenvolvimento pessoal. A paciência, o bom senso, a disponibilidade, o sentido de humor, o apreço mútuo, a confiança recíproca e a busca da excelência devem ser uma constante, renovada cada dia por todos. 5. Entre a direção, os educadores, e os Pais das crianças desenvolve-se uma relação de aliança educativa, traduzida numa comunicação frequente – através de encontros gerais ou particulares – e numa procura perseverante de sintonia entre a proposta educativa escolar e a responsabilidade educativa do meio familiar, necessariamente diversos mas complementares. Esta aliança não traduz necessariamente uma concordância exaustiva sobre todos os pontos da relação, mas compromete os interlocutores num diálogo verdadeiro que possibilite o respeito e a adesão às tentativas da família e da escola de exercerem as respetivas missões educativas. Procura-se evitar posições de antagonismo e desconfiança de parte a parte que prejudicam o testemunho da maturidade junto das crianças e impedem um serviço atento à sua pessoa por parte dos adultos. 6. A comunidade educativa quer ser uma comunidade aberta e participativa nos âmbitos local, nacional e internacional, cumprindo as suas responsabilidades cívicas e trabalhando para o bem comum, no diálogo aberto com todos. A AJE reconhece as suas responsabilidades na comunidade alargada a que pertence, enquanto tentativa de participação no esforço regenerativo da sociedade. A Creche São Miguel Arcanjo deve não só manter-se atenta e aberta a todas as pessoas e instituições com que se relaciona, como procurar contribuir activamente para o bem da cidade, do País e do mundo. 7. Nas comunidades educativas da AJE, e por maioria de razão na Creche de São Miguel Arcanjo, é bem-vinda a diversidade das contribuições de cada membro, enriquecidas pela variedade de temperamentos, tradições, conhecimentos, competências, circunstâncias de vida que cada um traz consigo e desenvolve. Na admissão das crianças privilegiamos candidatos com uma experiência de vida de excepção, quer pelas suas dificuldades económicas, sociais ou pessoais, quer por terem vivido experiências particulares, como por exemplo, serem oriundas de outras molduras culturais. A Creche São Miguel Arcanjo responsabiliza-se pelo esforço de integração necessário, nos âmbitos relacionais, financeiro, curricular e didáctico. É diante desta variedade, e partilha de experiências de vida distinta, que cada criança encontra estímulos suficientes para o seu crescimento. Esta variedade e a sintonia de todos os seus membros em relação aos fundamentos da Creche fortalecem a sua estrutura comunitária em todos os seus âmbitos orgânicos. III. A Razão: o primeiro âmbito da Proposta Educativa 1. Entende-se a Razão como a capacidade que cada pessoa tem de conhecer a realidade em todos os seus factores, desde as suas manifestações mais capilares até ao seu significado último. 2. A Creche São Miguel Arcanjo pretende ser uma comunidade educativa em que os adultos testemunhem um constante trabalho da sua razão no sentido de conhecerem melhor toda a realidade e o seu sentido, dedicando-se, ao mesmo tempo, seriamente, ao desenvolvimento dos seus conhecimentos na área específica que são chamados a ensinar. Queremos desenvolver na Creche São Miguel Arcanjo um ambiente de crescimento pessoal que permita a cada criança penetrar e apoderar-se cada vez mais da realidade, dando-se conta da incrível correspondência entre as suas capacidades cognitivas e o real. Entendemos por capacidades cognitivas o conjunto de competências variadas de que a razão dispõe para, diante de qualquer dado do real, material ou não, o compreender em todas as suas dimensões, quase sempre com esforço e gradualmente. 3. Cada educador é chamado a trabalhar com afinco na tentativa de transmitir a cada uma das crianças conhecimentos efectivos que passem a ser real património da criança, de maneira a serem por eles usados e desenvolvidos. A este trabalho – que implica arriscar uma variedade de métodos e metodologias, materiais, instrumentos e circunstâncias – chamamos didática. A didática tem por fim último contribuir para o alargamento da razão das crianças, não só através da aquisição de conhecimentos, mas também através do desenvolvimento de competências metodológicas que permitam à criança adquirir outros conhecimentos, inter-relacionar vários conteúdos e fazer novas descobertas. V. A Experiência: Método Educativo, Pedagógico e Didático 1. Pensamos que o trabalho da razão resulta do encontro entre a pessoa e a realidade. Quando cada pessoa embate em si própria, ou em outros seres, coisas ou circunstâncias, vem-lhe o desejo de compreender o que encontra. A sua razão é posta a trabalhar, espantando-se diante daquilo que descobre, agarrando as suas características, relacionando-o com o que já conhece e comparando-o com as exigências mais essenciais do coração: o desejo de felicidade, de justiça, de verdade, de beleza. Chamamos juízo à evidência que resulta da identificação na realidade daquilo que ela tem de correspondente àqueles desejos. O juízo é verdadeiro conhecimento porque permite compreender a realidade e estabelecer com ela uma relação adequada ao que somos. A Creche São Miguel Arcanjo quer lançar os alunos na experiência, favorecendo o encontro de cada pessoa com a realidade na sua máxima diversidade, sempre que possível directamente e, quando tal seja impossível, através dos meios indirectos mais fieis à realidade que dão a conhecer. Só esta imersão no real pode favorecer o fervilhar activo da razão de cada criança. A esta imersão no real, seguida de um juízo pessoal sobre o que se encontra, chamamos experiência. É este o método que queremos seguir para educar as crianças que frequentam a Creche, quer se trate do ambiente geral desta, quer do âmbito da relação nas nossas comunidades educativas, quer das orientações didáticas. No contacto com os mais novos, o educador deve encorajar e desafiar a criança enquanto esta faz, por sua vez, a sua tentativa. O educador não pode ter qualquer pretensão sobre o controlo do juízo que a criança faz. Este é o risco de educar. V. A Relação, terreno da proposta educativa 1. Cada pessoa deseja antes de mais ser amada, deseja que o seu destino seja querido e estimado gratuitamente. Os educadores da Creche São Miguel Arcanjo são responsáveis por uma estima que abrace a pessoa de cada uma das suas crianças sem limites. Cada educador deve tentar ir ao encontro de cada criança, obedecendo à sua pessoa como ela se apresenta, ainda antes de se empenhar em favorecer uma mudança que permita a cada criança crescer verdadeiramente, superando as dificuldades no seu desenvolvimento pleno. Os adultos devem estar disponíveis para acompanhar as crianças de todas as formas ao seu alcance, manifestando-lhes o amor pelo humano que está na raiz de qualquer vocação educativa. 2. Os educadores devem ter consciência que, à medida que a criança se desenvolve, a relação resulta cada vez mais de um encontro de duas liberdades e que a relação verdadeira existe quando duas pessoas se estimam reciprocamente. A responsabilidade e a estima do educador pela criança deve respeitar e estimular a iniciativa desta última. VI. A liberdade: fim último do Esforço Educativo 1. Através do uso da razão, da experiência e do exercício da amizade o que se ambiciona no limite na Creche São Miguel Arcanjo é contribuir para a liberdade de todos os seus membros. A liberdade é a capacidade de adesão ao ser, ao bem, à justiça, à beleza. É esta capacidade pessoal que fundamentalmente se quer ajudar a crescer na Creche segundo o caminho sagrado que a personalidade e as circunstâncias de cada pessoa impliquem. As crianças devem poder identificar nos educadores a força, a consistência e a alegria que nasce da liberdade madura. A evidência desta posição desperta na consciência de quem está a crescer um desejo de verificar na própria vida uma posição semelhante. Assim as crianças começam o seu próprio caminho pessoal acompanhado pelos passos seguros dos mais velhos, que os encorajam e estimulam. 2. A proposta educativa tem que ser, por sua vez, adequada ao coração de cada um. Cada pessoa deve perceber na Creche São Miguel Arcanjo não uma imposição coerciva de um sistema de regras ou de pretensões de formatação, mas uma proposta razoável e adequada ao desenvolvimento e à realização pessoais. As crianças não podem ser exasperadas por exigências fúteis e desproporcionadas, ao mesmo tempo que não devem ser abandonadas à sua instintividade. As regras disciplinares são mínimas, indispensáveis e claras. O enfase está na aventura da maturação e do conhecimento. A proposta educativa deve comportar o ponto de fuga da procura de significado da vida, de maneira a ser autenticamente. Aquele ponto de fuga é o que proporciona a cada pessoa a experiência da liberdade, como busca e descoberta incessante do eu. Deve, por isso, permear todos os âmbitos do ambiente escolar, desde os aspectos informais, às linhas de orientação didácticas e aos conteúdos curriculares. Desta forma, pode propor-se convictamente aquilo que em cada momento se julga mais adequado, sem pretensão de que seja a única e perfeita possibilidade. 3. O próprio ritmo comunitário deve favorecer a liberdade pessoal. Os sacrifícios pedidos a cada um para que possa pertencer a uma comunidade – tais como a pontualidade, a assiduidade e uma certa organização curricular – são ocasião de crescimento. Os educadores devem vigiar cada criança para que o ritmo de todos seja verdadeiramente respeitador das necessidades pessoais. Fazendo experiência da pertença a uma realidade maior, cada criança cresce também na consciência que tem de si, das matérias e da vida. VII. Divulgação e trabalho sobre o Projecto Educativo 1. O Projecto Educativo é divulgado e trabalhado no âmbito da formação anual dos educadores, e apresentado aos Pais nos encontros de início de ano, de maneira a ser cada vez mais um instrumento de renovação contínua da vida da Creche, por todos assumido e ao serviço de todos. 2. Todos os membros da comunidade educativa devem confrontar-se com o seu conteúdo e dialogar entre si sobre as respectivas implicações pedagógicas e didáticas.